Efeito Bet: como empresários estão pagando a conta das apostas online

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Dia 28 de julho, 2025

Em 2023, as apostas online movimentaram mais de R$ 130 bilhões no Brasil.

Esse número, por si só, já coloca o setor ao lado de gigantes da economia:

Maior que o orçamento anual do Bolsa Família, maior que o lucro líquido de todos os bancos juntos em alguns trimestres.

E tudo isso sem contar os impactos indiretos.

Mas enquanto o governo se prepara para arrecadar sua fatia desse mercado com a nova regulamentação, há um custo que ninguém está medindo com precisão:

O que acontece com o resto da economia quando esse dinheiro sai de circulação produtiva?

Empresários começam a perceber os sinais.

O varejo sente a desaceleração no consumo.

O crédito, pressionado pelo aumento da inadimplência, fica mais caro.

E o ambiente interno das empresas passa a refletir os efeitos de um problema que ninguém quer admitir que está crescendo: vício, distração, queda de produtividade.

Esse fenômeno tem nome, e não diz respeito apenas às plataformas de apostas.

É o que estamos chamando de Efeito Bet: uma redistribuição silenciosa de capital, atenção e saúde financeira, que começa a comprometer a rentabilidade de empresas que nada têm a ver com o jogo.

Neste artigo, vamos expor as conexões que ninguém está cruzando: do faturamento que evapora ao crédito que encarece, da produtividade que cai ao planejamento estratégico que precisa ser revisto.

E mostrar por que líderes inteligentes não podem mais ignorar o que está por trás dessa nova economia informal, agora legitimada por lei.

O Dreno no Faturamento

Todo real que entra no bolso do consumidor tem três caminhos possíveis:

Ele pode ser poupado, investido ou gasto no mercado real.

No caso das apostas online, esse dinheiro é gasto, mas não volta.

Não volta em forma de demanda para o seu negócio.

Não circula entre fornecedores, logística, varejo, indústria.

Não financia sonhos, consumo ou investimentos.

Ele é sugado por um sistema que vive do vício. E, em troca, entrega pouco ou nada à economia produtiva.

Vilson Noer, presidente da Federação Gaúcha de Varejo, diz:

“As empresas que vendem álcool geram uma cadeia econômica positiva. Essa é a grande diferença em comparação às bets.”

E a comparação faz sentido.

Um restaurante vende bebida alcoólica, paga funcionários, compra insumos, paga aluguel, movimenta fornecedores.

Uma plataforma de apostas capta os valores via PIX, distribui parte em prêmios e lucra com a diferença — boa parte indo para fora do país ou para um grupo concentrado de operadores no Brasil.

Estimativas já apontam que o varejo tradicional perde até R$ 117 bilhões por ano por conta do dinheiro desviado para apostas.

Não é só a loja de roupas ou o mercado de bairro que sente: esse buraco atinge quem vende serviço, quem parcela no carnê, quem depende do giro de caixa para fechar o mês.

Empresários que antes culpavam “queda no fluxo”, “clima político”, “algoritmo do Instagram” estão começando a notar um padrão:

O cliente não sumiu. Ele só está apostando.

O Ciclo da Inadimplência e dos Juros Contaminados

Se o faturamento some de um lado, o crédito encolhe do outro.

E tudo começa na ponta mais vulnerável: o consumidor endividado.

Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre, 42% dos apostadores no Brasil já estão inadimplentes.

Esse dado, por si só, já deveria acender o alerta em qualquer gestor que vende a prazo, parcela no cartão ou depende de capital de giro para operar.

Mas o impacto vai além da inadimplência direta.

Ele contamina a taxa de juros como um todo.

Hoje, cerca de 20% do custo do crédito bancário no Brasil está atrelado ao risco de calote.

Ou seja: quanto mais pessoas inadimplentes no sistema, mais caro o dinheiro para todos, inclusive para você.

Mesmo que sua empresa tenha bom histórico, o spread é coletivo.

Você paga por um risco que não gerou, mas que agora faz parte da nova média estatística do país: um consumidor mais impulsivo, emocionalmente instável, pressionado e com menor capacidade de planejar financeiramente.

Oscar Frank, economista-chefe da CDL, disse:

“Se [as apostas] seguirem crescendo na velocidade atual, o impacto será fortíssimo.”

A conta chega na forma de juros mais altos para renovar estoque, para antecipar recebíveis, para expandir a operação.

Enquanto o empresário aperta o caixa para pagar o banco, o consumidor continua jogando.

Quando o Vício Entra no RH

O impacto das apostas não para no caixa nem no crédito.

Ele chega também ao coração da operação: a equipe.

Um colaborador viciado em apostas não se comporta como antes.

Mesmo quando entrega resultado, o desgaste vem por dentro.

Esgotamento, distração, irritabilidade, queda de foco, uso do celular fora de hora, atrasos recorrentes, pedidos de adiantamento, baixa concentração em tarefas simples.

Esses sinais, muitas vezes tratados como “problemas de atitude”, são na verdade sintomas de descontrole financeiro.

E o descontrole não nasce do acaso:

Ele é alimentado por uma dinâmica viciante, desenhada para gerar dopamina fácil.

O psiquiatra Carlos Salgado alertou para isso:

“O problema financeiro pessoal de um membro da equipe pode se tornar um problema de desempenho para toda a empresa.”

E ele tem razão.

O que começa com uma aposta “pra ver no que dá” se transforma num buraco emocional.

E quando o colaborador tenta cobrir um boleto com outro, ou recuperar no domingo o que perdeu no sábado, não é só o extrato bancário que sofre.

A produtividade cai, o clima azeda, o turnover cresce…

A empresa perde duas vezes:
 – no resultado entregue abaixo do potencial,
 – e na energia necessária para corrigir o que poderia ter sido prevenido.

RH estratégico, hoje, precisa entender de comportamento financeiro.

Líderes atentos identificam o que está drenando a performance, mesmo quando o colaborador ainda não percebe.

O Governo Arrecada, o Empresário Paga

A legalização das apostas foi vendida como solução:

“Vamos arrecadar bilhões, formalizar o setor, proteger o consumidor.”

No papel, a Lei nº 14.790/2023 de fato estabelece regras mais rígidas:
 – casas de aposta precisarão ter sede no Brasil,
 – pagarão 12% de imposto sobre a receita bruta de jogos (GGR),
 – além dos tributos tradicionais (IRPJ, CSLL, PIS/Cofins),
 – e haverá retenção de 15% sobre o prêmio líquido do apostador.

Parece justo. Parece equilibrado. Parece lucrativo.

Mas será que, na prática, é assim mesmo?

A arrecadação estimada para os cofres públicos gira entre R$ 12 e R$ 15 bilhões por ano.

Pode parecer muito, até você lembrar que o rombo da Previdência em 2023 foi de R$ 308 bilhões.

E mais: quanto o Estado vai precisar gastar com os efeitos colaterais?

Saúde mental: crescimento de casos de vício, ansiedade, depressão e tentativas de suicídio ligadas a jogos.
 – Assistência social: famílias desestruturadas, perda de renda, endividamento crônico.
 – Segurança pública: crimes financeiros, extorsões, furtos ligados ao desespero por recursos.
 – Justiça: aumento de processos civis e trabalhistas envolvendo apostas.

O custo social pode facilmente ultrapassar a arrecadação.

Mas o governo seguirá dizendo que “o saldo é positivo”, porque planilhas não contam histórias, e muito menos mostram quem paga a conta no fim da cadeia.

Quem absorve o consumo que deixou de acontecer?

Quem sofre com a inadimplência que se alastra?

Quem precisa manter produtividade com equipes emocionalmente esgotadas?

Não é Brasília: é você.

Se Apostar Já Virou o Novo Normal, Que Tipo de Empresa Vai Sobreviver ao Novo Brasil?

Nos últimos anos, apostar deixou de ser exceção para se tornar rotina.

Apostar enquanto espera o ônibus, enquanto finge trabalhar, enquanto almoça — virou parte do cotidiano de milhões de brasileiros.

O que era jogo, virou hábito. E, para muitos, já se transformou em vício.

Esse novo comportamento muda a forma como o consumidor lida com dinheiro, altera sua percepção de valor, compromete sua previsibilidade financeira e distorce completamente a dinâmica de consumo.

Quem depende de venda, crédito ou produtividade já está sentindo os efeitos, mesmo que ainda não consiga dar nome ao problema.

A queda no fluxo de clientes, o aumento na taxa de inadimplência, a desmotivação nas equipes… tudo isso começa a se conectar quando o empresário olha o cenário de forma mais ampla.

O Efeito Bet não é uma tendência passageira: é um redesenho de prioridades na economia real.

E, como em toda transição, só sobrevivem as empresas que se adaptam antes.

Isso significa revisar projeções de faturamento com base em novos padrões de consumo.

Significa repensar políticas de crédito e parcelamento para proteger o caixa.

Significa observar de perto a saúde emocional e financeira dos colaboradores, porque uma equipe endividada trabalha no piloto automático, sem foco e sem criatividade.

Liderar nesse novo contexto exige inteligência estratégica, antecipação de riscos e, acima de tudo, clareza sobre o que realmente está acontecendo por trás dos números.

É exatamente aí que entra a Solutta.

Nós ajudamos empresários a entender os movimentos invisíveis do mercado, interpretar seus impactos e tomar decisões com base em dados.

Se você quer proteger sua operação dos efeitos que ainda não apareceram nas manchetes, mas já ameaçam sua margem, sua equipe e sua competitividade, fale com a gente.

A hora de se antecipar é agora.

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